23 de nov. de 2010

Feira Livre

 

Apreciem, caros leitores, mais um de seus maravilhosos textos.
Por ISELO


Feira livre.

 


Juliet, a ama que cuidava das crianças da mansão dos Reimond, acabara de receber dois patos, uma galinha e um punhado de milho em troca de 'favores' para alguns senhores. Emanuelle, que via tudo de longe, ficou enfurecida com aquilo.
 Por mais que a aconselhasse, Juliet insistia em vender a liberdade que possuía por alguns gatos pingados... E não fora a única a cometer erros. Todo o vilarejo parecia cego diante de uma possível revolução.
 Burgueses queriam que as coisas continuassem como estavam, eles no poder. Revolucionários pediam o fim dessa ditadura política, o povo mandaria em si mesmo.
 Infelizmente nenhuma das duas alternativas era realmente boa. O que aquele povo precisava era de um bom governante, alguém justo, responsável e que se importasse com eles... Mas parecia impossível existir alguém assim ali.
    -O que está fazendo agora, mocinha? Não me diga que ainda está com aquela história maluca de política na cabeça! - Anastasia, tia de Emanuelle, que cuidara dela desde que seus pais morreram no incêndio de sua pequena choupana, surpreendera a menina avoada em seus pensamentos.
    -Ora, tia! Que mal há em pensar no bem desse vilarejo?
    -Bem? Que "bem", minha filha? Não são seus ideais que mudarão o destino dessa gente! Esse lugar já foi muito bom um dia, mas desde que as fábricas chegaram as coisas só têm piorado... - dona Anastasia podia fazer parte do grande grupo de analfabetos da região, mas era muito esperta. Ela sabia que fora a elite indutrial que arrancara dos agricultores a última esperança de uma vida melhor.
    -Isso não pode ficar assim, tia... - a revolta dentro da menina era muito grande.
    -Onde você está indo Emanuelle?!
    -Estou indo dizer algumas coisinhas a esses senhores que se dizem civis! - Emanuelle levantou-se e, batendo os pés, correu até uma pequena bancada de um feirante qualquer. De cima do palco improvisado chamou um guarda e pediu que ele atirasse com sua espingarda para o alto, a fim de chamar a atenção de todos. Por sorte, o soldado Guilles era seu amigo e atendeu ao seu pedido, ele queria ver até onde a ousadia dela chegaria.
 O disparo foi feito e como previsto todos se voltaram para Emanuelle.
    -Querida! Saia já daí de cima! - sua tia Anastasia gritava ao longe, mas Emanuelle continuou firme onde estava. Irredutível. - Anda, menina! Desça já antes que eu te traga aqui embaixo à palmadas!
    -Sinto muito, tia, mas esse povo precisa escutar algumas verdades! - disse ela à mulher, e logo virou-se novamente para a multidão que se formou em sua frente - Como podem passar tantas asneiras por essas cabeças? Como podem vender seus futuros assim tão facilmente? Seus futuros! Passam-se anos de amargura e sofrimento, consequência de suas péssimas e infelizes escolhas, e mais uma vez lá estão vocês destruindo mais anos de suas vidas... Para complicar ainda mais a situação, não apenas estão se corroendo por dentro como também estão jogando no lixo as possíveis oportunidades daqueles que foram atirados nas sargetas por essa gente burra. - ela fez uma pausa para respirar e acalmar os ânimos um pouco. - Vêem aquelas pobres criaturas se arrastando entre os restos dessa feira? São eles os maiores prejudicados nisso tudo... Não têm pena nem um peso na consciência?
  Silêncio. Parecia que não...
    -Não?! - dessa vez ela não pôde se conter e acabou explodindo, tamanha a raiva - Não sentem nem um pouquinho de dor na consciência por esses coitados? Imaginem-se no lugar deles! Quem ampararia vocês? Seus senhores? Esses seriam os primeiros a lhes pisotearem! Pensem na falta que um prato de comida faz a eles! Pensem que, no lugar deles, poderiam estar seus filhos e netos! E ainda assim vendem-se por um preço miserável?! Que absurdo!
 Antes que ela pudesse continuar, Guille, o guarda, pegou-a nos braços e a colocou no chão.
    -Solte-me, Guilles! Eles precisam saber da verdade!
    -Que verdade, criança? A verdade que eles estão sendo enganados? Todos nós estamos... Todos nós sabemos...Nada vai mudar. - as palavras do homem ecoaram pela cabeça de Emanuelle... Será que nada mudaria, mesmo? Será que gritar pela vida alheia seria o mesmo que argumentar com as paredes?
Emanuelle caminhou cabisbaixa até sua casa... Será que de nada adiantaria lutar? Ela não acreditava nisso. Por  mais que aquela gente não entendesse o sentido de exigir tudo o que tinham direito, ela entendia. Parecia aos olhos dos outros uma ignorância gigantesca, mas dali nasceria um novo tempo e ela estava preparada para isso: Chegaria, em breve, o tempo dos heróis...











[Faria*16/11/2010]

Um comentário:

  1. Anônimo23.11.10

    Maravilhoso?! HÁ! Desastrosos, né, Muffin? õ.ò'

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