O escritor Vasco Graça Moura defendeu que o novo acordo ortográfico não é válido à luz das leis da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Autor reconhecido e júri de mais de metade dos concursos literários portugueses, o autor garante que o acordo não pode ir em frente porque não foi validado por todos os países. O autor do romance “Enigma de Zulmira” foi o orador principal de uma conferência sobre o novo acordo ortográfico organizado pelo jornal Correio do Ribatejo que se realizou na noite de sexta-feira, 13 de Janeiro, na Casa do Brasil, em Santarém.
Segundo Vasco Graça Moura, grande opositor do novo acordo ortográfico, a CPLP “inventou” que desde que três países membros assinassem o acordo este seria considerado como estando ratificado. “Esta decisão é ilegal porque para estar de acordo com a lei tem que ser assinado por todos os países. Tudo isto é uma falácia porque o acordo não tem que ser aplicado. Tanto o Brasil como Angola e Moçambique não estão a seguir as novas regras”, refere.
O escritor afirma que os “defensores” do novo acordo estão a criar três grafias distintas da língua portuguesa: a grafia antes do acordo ortográfico - aquela que se pratica em Angola e Moçambique - a grafia do Brasil e a grafia “idiota” que se está a querer implementar em Portugal. “Tudo isto só contribui para ‘desfigurar’ a nossa língua e para que não falemos muito bem”, critica. Vasco Graça Moura justifica a decisão do actual governo de não voltar atrás com a deliberação de avançar com o novo acordo com o facto de já se ter gasto “muito” dinheiro em manuais escolares.
Licenciado em Direito, Vasco Graça Moura considera esta uma situação “insustentável” e sublinha que ainda não viu nenhum professor de Direito dizer que o acordo ortográfico pode estar em vigor.
Também presente na conferência esteve o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API). João Palmeiro destacou a importância do papel da comunicação social e o debate que deve ser feito sobre o assunto. “A decisão que os jornais tomem sobre o novo acordo não é muito importante. O que é importante é que o jornal explique bem o porquê da sua decisão”, disse.
Notas à margem
A conferência destacou-se pela presença de muitos professores, a que não é alheio o estatuto do orador. A grande preocupação dos docentes é a “politização” que se está a fazer destas questões. A professora Maria Lurdes Veiga destaca a diferença de critérios entre professores e alunos na aplicação do novo acordo. Enquanto os docentes são “forçados” a utilizar sempre a nova grafia, em situação de correcção de exames, os alunos podem escrever com ambas as grafias”, critica.
O administrador do jornal Correio do Ribatejo (CR), Miguel Pinto, referiu que é intenção do semanário iniciar uma “peregrinação” pela imprensa regional para recolher opiniões de forma a promover o debate público. O novo administrador do CR, ao que parece, chegou à administração do jornal centenário com toda a força.
Vasco Graça Moura avisou, no início da conferência, que preferia chamar àquele debate “conversa” uma vez que ele próprio entende que algumas das suas conferências causam sono. Com a sala cheia de gente interessada, só encontramos um dorminhoco. Nada mau para o tema em debate.
Já no final do debate, e em jeito de despedida, o presidente da API confessou porque não opina sobre o novo acordo ortográfico. João Palmeiro estudava no Colégio Francês, em Lisboa, quando no quarto ano teve que fazer exame de admissão. Nessa altura os pais aperceberam-se que não sabia escrever correctamente português.
Os progenitores tiraram-no do colégio e foi aprender a língua mãe com uma professora particular. De nada valeu o esforço uma vez que o presidente da API tirou medíocre no exame. “Não opino sobre o novo acordo porque ele é a minha salvação. Eu nunca soube, e ainda não sei, colocar acentos nas palavras”, justificou, arrancando sonoras gargalhadas à plateia.
Fonte: O Mirante
Edição: 19/01/2012
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