Louis Faurer |
O vento na sacada.
O vento na sacada.
Abre a janela, e o
vento na sacada bate. O vento bate, mas o ar é pouco.
É preciso respirar.
—Preciso respirar.
Não quero toques, nem
proximidade. Só quero liberdade de espaço, flutuar e planar, sem sair do lugar.
Já me acostumei com a ideia, já estou aprendendo a aceitar. Só estou...
aprendendo a aceitar. E vai demorar, mas Ó Deus, como queria parar de sonhar.
Os sonhos e esperanças são os mais terríveis, são ilusões iludidas e quanto
mais esperança há, menos esperança tenho. Ó Deus, só queria deixar de sentir.
De sonhar.
Cansaço do espaço, um
desejo de momento no espaço vácuo, cubo aberto, cubo vazio. Um espaço sem
espaço, sem toques, nem proximidade. Só planar, só flutuar, sem toques e
retoques. Uma reflexão. Mas é preciso ser sagrada, segura e no templo que é o
próprio corpo. Sozinho, um momento de reflexão. Sem medo do entorno, sem medo
de contato. O mundo externo machuca, é cruel. Dá sede. Muita sede.
—Eu só preciso
respirar.
O ar não chega aos
pulmões. E o medo do futuro, é o medo do desconhecido, medo do esperar, medo da
ansiedade, e a falta de ar... Preciso respirar.
Um momento de reflexão
para desejar sem limites.
—O que mais quero é....
No momento voar um
pouco. Depois, um frio aconchegante. Uma organização metódica. Um cabelo preso.
Um momento sem temer. Um momento sem se arrepender. Sem se lamentar, ou temer
precisar fazê-lo. Um momento certo, de coisas certas, feitas corretamente. Um
momento de certeza de estar na estrada correta, e um momento de certeza de que
há motivo para tal.
Mas não há vento na
sacada.
Sequer há uma sacada.
Sequer posso voar.
Lady Viana